Enfª Débora Heineck, do Hospital Divina Providência, conta em entrevista sobre o processo de substit
O Hospital Divina Providência iniciou suas atividades em 02 de Junho de 1969 em Porto Alegre/RS, e hoje disponibiliza 181 leitos para convênios e particulares. Seu Centro Cirúrgico localiza-se no 7º pavimento e possui 9 salas onde realizam-se em média 55 cirurgias/dia, totalizando uma média de 1.300 cirurgias/mês.
Enfermeira Débora Flach Heineck – Especialista em Centro Cirúrgico pelo CBES, MBA em Gestão de Pessoas e liderança Coach pela UNISALLE. Supervisora do Agendamento Cirúrgico do Hospital Divina Providência de Porto Alegre.
A Rede de saúde Divina Providência conta com quatro hospitais:
Medclean: Quais foram os motivos que levaram o Hospital Divina Providência a repensar o uso do enxoval de algodão?
Débora Heineck: Visamos sempre a qualidade dos nossos serviços, e após algumas mudanças nos processos da lavanderia, começamos a observar alguns pontos importantes, que impactavam diretamente na logística das áreas cirúrgicas.
Medclean: Você poderia nos citar alguns exemplos?
Débora Heineck: Alguns dos principais pontos foram os atrasos na entrega do enxoval, o que resultava na intervenção da CME, disponibilizando kits cirúrgicos descartáveis na falta dos pacotes de roupas esterilizadas, para evitar suspensão das cirurgias. Também houve a perda do enxoval, devido à roupa misturada para outras instituições, como também manchas nas roupas após o processo de autoclavagem, e evidência do desgaste, abrasão e presença de resíduos; além da reclamação sobre estado das roupas pelas equipes cirúrgicas.
Medclean: Diante deste problema com a lavanderia, como o hospital procedeu para atender a demanda das áreas cirúrgicas?
Débora Heineck: Observamos durante três meses, juntamente com as supervisões das áreas envolvidas, a fim de montar um plano de contingência para a falta do enxoval nas áreas cirúrgicas. Foi então que nós, a Coordenadora do Centro Cirúrgico Enf.ª Ir. Glaci e eu, Supervisora do Agendamento, iniciamos um levantamento dos custos de reprocessamento do enxoval, comparado ao uso de kits descartáveis exclusivamente.
Medclean: Durante esse levantamento de custos, foi possível observar outras questões que trariam benefícios para a instituição?
Débora Heineck: Durante o processo de levantamento dos custos foram observadas várias questões. Por exemplo, o benefício do uso das roupas descartáveis, que trazem barreira de proteção, segurança do paciente e prevenção de infecções. Foram considerados os pareceres do serviço de controle de infecção hospitalar, como também da gestão de risco, das equipes de cirurgia e das equipes assistenciais. Outra questão foi referente ao impacto ambiental, o quanto representaria o aumento da segregação dos resíduos. E por fim, o levantamento de custos com a perda do enxoval, e de custos intangíveis, como luz, água, detergentes, depreciação dos equipamentos e também custos com funcionários da lavanderia e técnico CME.
Medclean: Como foi a recepção das equipes médicas e da direção do hospital com a tentativa de mudança?
Débora Heineck: Quando concluímos o estudo e levantamento dos gastos com o reprocessamento, levando em conta todos os fatores determinantes, montamos um projeto para apresentação à direção do hospital. Ao final do ano de 2014, foi apresentada a padronização e projeto de migração gradativa das especialidades, a fim de atingir meta de 100% no primeiro trimestre de 2015. E foi neste momento que encontramos vários desafios: tivemos resistência para o investimento devido aos custos com aquisição dos kits. Também encontramos resistência das equipes médicas conservadoras ao uso do algodão e devido ao aumento no valor das cirurgias particulares. Surgiram dificuldades da mesma forma com a equipe assistencial, por essa quebra de “paradigmas” por querer inserir algo novo, bem como com a adequação dos kits conforme as especialidades.
Medclean: Como funcionou esse processo de migração gradativa?
Débora Heineck: Durante o processo, os setores de Hemodinâmica e Centro Obstétrico foram os primeiros a iniciar o uso exclusivo dos descartáveis, atingindo 100% da implantação em um mês. Por último, sugerimos o mês de fevereiro para migração total do centro cirúrgico, tendo em vista que muitas equipes já conheciam o material e composição dos kits descartáveis. E então anunciamos o início do período através de comunicado institucional a todas as equipes cirúrgicas.
Medclean: Foi necessário algum tipo de treinamento para as equipes?
Débora Heineck: Nesse comunicado também foi informada a presença da empresa parceira IGMED, com consultoria técnica, para sugestões e críticas para a definição dos kits padrões, conforme cada especialidade. A equipe do Centro Cirúrgico ficou durante três meses em treinamento e consultoria, adequando-se às novas rotinas de montagem de sala, campo operatório, e auxiliando as equipes e médicos dentro do novo padrão.
Medclean: Por ultimo, quais resultados foram identificados após o período de implementação dos materiais descartáveis?
Débora Heineck: Em pouco tempo a resposta foi muito positiva, pois além do avanço e modernidade, a questão da segurança do paciente e agilidade nas trocas de salas foi identificada. Outra questão importante foi o uso dos “bags” coletores de líquidos, a sua padronização dentro dos kits diminuiu a infiltração de fluidos na estrutura predial. Ao final do processo de implantação, pudemos identificar diversos ganhos com a migração do tecido para o descartável, como o aumento da segurança para o paciente e equipe cirúrgica; desenvolvemos previsões de estoque, com uma logística de entrega semanal. Conseguimos a gestão de escala do Centro Cirúrgico sem suspensões dos procedimentos por falta de enxoval. Identificamos que os custos médios foram equiparados ao reprocessamento antigo e obtivemos sucesso na adequação dos pacotes (valores) para cobrança dos kits e autorização dos mesmos para uso nas cirurgias. Tivemos também funcionários que eram escalados para o reprocessamento do enxoval e que agora atendem as outras demandas nos setores, além dos equipamentos que tiveram diminuição dos ciclos de esterilização, liberados para outras demandas do setor e aumento do tempo de vida útil estimado. As equipes do Centro Cirúrgico, Hemodinâmica e Centro Obstétrico estão 100% treinados para o novo padrão, e seguem inovando, realizando educações continuadas e adequações conforme as demandas mensais, visando à qualidade dos processos, segurança do paciente, satisfação do corpo clínico e daqueles que nos procuram.